Criança sonâmbula? Saiba o que fazer

Descrição

“Ela procurava o cômodo da casa que estava iluminado – meu marido e eu sempre estávamos acordados quando as crises aconteciam. Vinha andando, com os olhos abertos, mas o olhar disperso. Quase sempre, vivenciando uma situação parecida com pesadelo. Nas primeiras vezes, nem percebemos que ela estava dormindo”, conta a mãe.

Até os 7 anos, as crises foram bem frequentes, entre uma e duas vezes por semana. Atualmente, os episódios são raros.

“Quando soube, ficou muito chateada, achando que tinha algo de errado com ela e por isso ficou com vergonha. Num momento de conversa na escola, ela comentou que é sonâmbula, e sentiu-se supermal porque os colegas começaram a imitá-la, usando aquela imagem tradicional da pessoa sonâmbula com os braços estendidos à frente do corpo”, comenta a mãe.

O que poderia ser uma experiência traumática, acabou sendo uma ótima oportunidade de empoderamento da menina. “Ela ia para um acampamento e precisei orientá-la sobre os beliches, assim como conversar com a monitora que dormiria no quarto”, conta Cinthia, que adota algumas medidas de segurança como redes de proteção nas janelas do apartamento, portas da rua sempre trancadas à noite e uma luz de segurança no quarto de Anna.

O que há por trás

O sonambulismo acontece por causa de uma dissociação de componentes dos estágios de sono que ocorrem fora da ordem convencional. “Pode ser associado a fatores hereditários. Alguns fatores também ajudam a desencadeá-lo, como, por exemplo, estresse, alteração dos horários de sono, dormir pouco ou falta de sono, febre e o uso de determinadas medicações”, esclarece Luciana de Oliveira Palombini, médica especialista em medicina do sono do Instituto do Sono de São Paulo.

Como está relacionado ao processo de desenvolvimento e maturação cerebral, é mais comum o sonambulismo aparecer na infância e durar até 12, 13 anos, sendo que os episódios (como no caso de Anna) vão ficando cada vez mais esparsos até sumirem. É raro que a condição persista nos adultos, com exceção de casos de alto grau de estresse, alterações nos hábitos ou apneia do sono, alcoolismo e problemas emocionais.

“Os pais podem perceber que o filho é sonâmbulo observando seu comportamento, pois ele pode se sentar na cama e falar palavras desconexas e até vestir roupa, comer, manipular objetos. Sempre com olhos abertos, mas olhar vazio”, afirma Roberto Debski, especialista em acupuntura e homeopatia pela Associação Médica Brasileira, coach e master trainer em Programação Neurolinguística.

E agora, o que fazer?

De acordo com Debski, quando percebem a condição do filho, os pais devem ficar atentos e cuidar da segurança dele, observando se foi uma crise isolada ou se vem se repetindo.

“Como o sonambulismo ocorre na fase do sono não-REM, que é a primeira fase da noite, os pais devem ficar especialmente atentos. O sonâmbulo pode, sem problemas, ser despertado. Isso não acarretará nenhuma condição à saúde. Então conduza a criança com calma de volta à cama, ou leve-a dormindo mesmo. No dia seguinte, geralmente, não se lembrarão de nada”, explica Debski.

Porém, observa-se que o sonâmbulo, ao ser despertado, apresenta certa confusão mental e desorientação e, em alguns casos, até certa agressividade. “Portanto, o despertar deve ser calmo, equilibrado, gentil”, alerta Edson Issamu Yokoo, neurologista da rede de hospitais São Camilo, de São Paulo.

O tratamento indicado

Consultar o pediatra de confiança, um neurologista ou um médico especialista em sono é sempre recomendado. Mas o tratamento só é necessário se os episódios de sonambulismo forem muito frequentes e colocarem em risco a criança ou o adulto.

“Por vezes, medicamentos ansiolíticos podem ser utilizados e também tratamentos que auxiliem no gerenciamento do estresse e da ansiedade, como acupuntura, homeopatia, meditação e técnicas de relaxamento”, diz Debski.

Obrigatório, porém, é focar na proteção:

Manter o quarto seguro, sem objetos cortantes;

Colocar redes de proteção nas janelas e cercas ou portas em escadas;

Manter o colchão no chão;

Evitar deixar as chaves das portas disponíveis.

Além disso, certos cuidados ajudam bastante:

Os pais devem manter o sono do filho o mais estável possível e cuidar para que durma o número de horas adequado todas as noites. Crianças de 5 a 6 anos precisam ter de 10 a 13 horas de sono; e dos 6 aos 13 anos, de 9 a 10 horas. 

Atividades estimulantes também devem ser evitadas antes de ir para a cama.

Já o ambiente precisa estar silencioso e sem luz forte.

“Fazer uma rotina de sono para a criança relaxar bem, como um banho morno, massagem, luzes baixas, som relaxante, ler uma história, pode ajudar muito. Evitar alimentação pesada antes de dormir também”, recomenda Flavia Ramos Bello, pediatra da equipe HomePed.

É exatamente esta a conduta adotada por Alice Santos de Oliveira Andrade Castillo, desenvolvedora web, de Santana de Parnaíba (SP) e mãe da Lyssa, de 4 anos, que descobriu que sua filha era sonâmbula quando ela tinha pouco mais de 1 ano.

“Eu a peguei ainda no berço brincando de madrugada, sentada e rindo. Isso evoluiu para falar e sentar na cama. Ela já andou pela casa dormindo também. Esses episódios, que eram de mês em mês, passaram a espassar e, hoje, só acontecem se o dia for muito intenso”, conta Alice.

A mãe comenta que a família passou a adotar uma rotina mais calma à noite para facilitar o “desligamento” de Lyssa. “Não a deixamos ver TV depois de um certo horário, por exemplo, contamos histórias e procuramos relaxar com ela. Em viagens, ela dorme junto conosco. Festas de aniversário aqui são cedo, sem correria e gritaria antes de dormir e, por último, nada de açúcar à noite”, lista Alice.