Descrição
Sessenta anos deste movimento educativo cultural – Círculo de Estudo Pensamento e Ação – é gesta, feito heróico, e também musical, canção a celebrar em versos sua trajetória. De 49 a 51 vai se gestando, grupo de jovens, moços e moças, no Palácio da Sé, com Ação Católica e, de certo modo, separação, não de idéias e crenças fundamentais, mas querendo horizontes novos, filosofia, política do país e internacional, poesia de fundo social-participativo, pluralismo em todo sentido, ecumenismo alargando-se. Éramos: eu, Leão Gomes Junior, José Carlos Wanderley Guimarães, Ático Villas Boas da Mota, Carmem de Berlim e Carmem Sousa, Jorge Montalvão, um dos irmãos Medeiros desistiu. Sentido de vida e presença no epocal, confirmando o dito de Heidegger, pois o somos do presente imediato, ao surgir das vocações e destinações, ou o tempo nos tragará. Tentativa de levar luz e sol às inteligências e corações. Criar, sempre ao transitar no mesmo tempo, Nova Geração. Também somos a geografia esculpida na história e com a história. Estávamos e estamos hoje, e no amanhã possível, em Salvador: “Formosa terra, entre o Céu e o Mar” (Cecília Meireles); “Região saturada de espiritualidade, onde a inteligência nos envolve e enche o ambiente, como o azul da atmosfera, a luz solar e a doçura de nossas virações, ninho onde cantou Castro Alves, verde ninho murmuroso de eterna poesia” (Ruy Barbosa). Regionalidade oriental-ocidental, indígena, portuguesa e negra, de todo matiz, tons. Mestiça de entretons originais. Judia, na herança de Espanha-Portugal, moura, árabe, galega, basca, desde os libaneses e palestinos, até turcos, mistura multirracial a completar-se em interrelacionalidade cada vez mais e cada vez mais larga.
E a destinação, provinda de nosso agir pessoal e grupal, comunitária, de idéias, de sonhos, de realismo. Tal visão, ou cosmovisão, levou o grupo cepiano a se locomover da Praça da Sé, de onde saiu, do Palácio Arquiepiscopal e das siglas de Ação Católica, até a Saúde. Transposição. Depois e depois, Rosário, São Bento, Terreiro, Barbalho, Carmo, Sé (Congregação Mariana de São Luís), Canela, Vieira, Vitória, Carlos Gomes – Instituto de Música da UCSal. Também no Museu Geológico e sempre um centro aglutinador, partindo e chegando, Barbalho. Reuniões e palestras, conferências, debates-diálogos, assim chamávamos, porque era permitido discutir e houve momentos difíceis, suplantados porém. Na Saúde, quintas e sábados; no Rosário, todas as noites, às vezes tardes; nas demais, variadamente com palestras de Rômulo Almeida, Geonísio Barroso, Wilson Lins, General Juarez Távora, Hélio Rocha e uma infinidade de nomes que a Bahia conhece. Nesse viajar de lutas, debates, palestras, conferências, chegamos até ao perigo. Nos anos 80, nas quintas-feiras à noite, debatíamos e, então, passando pela Praça da Piedade, convidamos, ousadamente, um grupo de rapazes e moças anarquistas e um grupo de skin heads, neonazistas, sobre como viam a política ideológica e, durante três quintas-feiras; na última, abriram-se-me os olhos, percebi cacetetes e bastões de madeira em mãos de uns e outros. Tive o maior susto: poderia ter havido pancadaria e destruição do fidalgo Salão Nobre, pelo qual a Professora, Diretora Maria Dulce Calmon de Bittencourt, tinha o maior cuidado. O oposto também se deu: nos fins dos anos 90, como íamos, eu e um grupo de jovens cepianos às Semanas de Unidade, quando então conheci o Reverendo Josafá Batista dos Santos, da Igreja Anglicana, que veio depois compor o Conselho do CEPA. Um pouco adiante propus-lhe coordenar um texto sobre Teologia no Século XXI, com pastores e padres, vivos uns, mortos outros, edição bancada pela CESE. Na trajetória, o CEPA do Rosário tornou-se a Geração do Cinema sem que realisticamente entendêssemos e é assim que surge Glauber Rocha, cuja vocação era para o teatro e todos os seus mais ligados passaram pelo CEPA, destacando João Carlos Teixeira Gomes – Joca – e tantos outros, cujas fotos estão na Revista CEPA Cultural (saíram 31 números) e também na Revista Logos e no livro “Um Glauber Inegável”. Há cerca de seis fotos de glauberianos cepistas. Não esquecer Artur Orlando Mendes Caria, futuro juiz em Feira de Santana. Igualmente, Jamil Bagdede, no tempo era chamado por Glauber “Jamil Cinema Bagdede”... A andança para a arte cinematográfica foi através dos sempre cepianos José Teles de Magalhães e Luís Paulino dos Santos, estes, sim, lhe ensinaram a parte técnica. A máquina Terta Sound, tchecoslovaca, comprada foi pelo pai de Iaiá e Miriam Ribeiro, depois Machado, que era o senhor Luís de França Ribeiro da Silva, Bidu, e cuja mesa onde ambos e outros almoçaram está no Barbalho, sede administrativa do CEPA, permanente ponto central. Também no CEPA do Rosário, tivemos um grupo de jovens moças como Iaiá e Miriam Ribeiro, depois Machado, Lili Lauria, as irmãs Sentges, Elsa Mota, Ana Angélica Vergne de Abreu, Arlinda Veras.
Hoje, a casa do Barbalho é propriedade de Graciela Santos Elgart, cepista e Presidente do CEPA durante dois períodos e que nos cede uma parte onde está o CEPA administrativo. Quando reabrimos o CEPA, em 13 de junho de 1981, onde destaco o sempre amigo Damário da Cruz, artista completo, poeta, fotógrafo, pintor, escritor, vimos que o CEPA na sua primeira parte tivera um mal objetivo: não ter publicado textos e, assim, entre 81 e 87, criamos editoração, publicamos jornais, mais de 100 textos, livros, antologias, inclusive livro sobre educação do hoje acadêmico emérito, Jair Santos, da Academia Baiana de Educação. Realizamos dois concursos literários internacionais, Graciela levou aos Estados Unidos e Hungria em rede nacional de TV. Não houve antes, em movimentos culturais, um concurso internacional em três línguas: inglês, espanhol e português. O segundo concurso literário internacional veio com o dinâmico Roberto Leal Correia, atingiu todo o Brasil e Estados Unidos. Em 87, ano difícil para o CEPA, nasceu no colégio Antônio Vieira a idéia da Revista CEPA Cultural, com Antônio Bartolomeu Santos, Graciela, Eliseu Moreira, Roberto Leal Correia, Luís Germano e Davi Bernardo Ribeiro Machado, a duras penas tiramos 31 números de uma revista de porte. Devo referir que estávamos no chão no Colégio Vieira: éramos três, eu, Graciela e Eliseu. Roberto Leal estava em São Paulo. Quase fechamos, mas, com a luta pela revista, revivemos. Nova reanimação foram os Concursos Nacionais de Poesia e Prosa, que atingiram nacionalmente. Nessa época, erguemo-nos com a Revista CEPA Cultural e resolvemos fazer palestras em város locais e, então, uma delas foi na sede do CEAO, o Centro de Estudos Afro-Orientais, no Terreiro, quando vieram para o CEPA o Reverendo Josafá, Almerindo César de Quadros, surgindo logo um antigo cepista, dos anos 60, Humberto de Argôlo, um grupo de jovens da Faculdade de Direito, com Pedro Sabino e outros, o universitário Joaquim da Costa Munduruca Neto. Criou-se então, a Revista Logos, com Ivan de Almeida, Idenilton Santos, Pietro Manfredini, Sandro Cavalcanti, Alexandro Jesus Santos. Anteriormente tivemos, entre 59-60-68, a Geração Política: Professor Renato Fiúza, Edivaldo de Brito, Walney Moraes Sarmento, posteriormente doutorado em Filosofia em Hannover, Alemanha, José Nelson Cerqueira, Luiz Gonzaga do Amaral Andrade (hoje Presidente da Petrobahia), José Hilton, Rizodalvo Menezes, Antônio Carlos Gomes de Souza, Antônio França Teixeira, Bartolomeu Landin, Tobias Tavares da Cruz, Genebaldo Correia e outros... E, assim, entre altos e baixos, temos vindo. Com Quadros nasce o Jornal A Voz do CEPA, que atingiu cnquenta números em Março/Abril de 2011. Em nossa caminhada, conseguimos, nas quintas-feiras, espaço na Livraria da Editora Vozes que nos abriu as portas, tivemos conferências, debates, tertúlias, lançamentos de textos, tendo à frente Roberto Leal Correia, Ivan de Almeida, Alexandro, Humberto de Argôlo. Nova reviravolta: em 2000, primeiro infarto meu, fecha-não-fecha o CEPA. Melhorei, estivemos presentes até agora. Em 2007, entretanto, outro infarto meu, mas o CEPA continuou. Tivemos palestras e apoio do Cônsul do Japão, Emilton Rosa, João Eurico Mata, inteligência polimorfa, no Conselho do CEPA; na Academia Baiana de Educação, através de Leda Jesuíno e Roberto Santos, nos ajudaram concretamente. E concretamente José Nilton de Carvalho Pereira nos apoiou com a feitura de dois números do A Voz do CEPA: é o apoio do Apoio. Que mais dizer? Que haveria muito mais a tratar, lembrar e relembrar. Geraldo Leony Machado, José Martins Abbade, Antôno Constantino Pereira, Rizodalvo Menezes, Paulo César Torres, Antônio Fernando Barbosa Sacramento, cujo tio Mário Belmiro Barbosa – ou Marbelosa – pertenceu ao Conselho do CEPA, com José Siquara da Rocha, que, em 2000, abriram o Grupo de Ação Cultural e foram para a Fundação João Fernandes da Cunha. João Fernandes da Cunha, colaborador eficiente da Revista CEPA Cultural e de outros trabalhos com discrição e estima, muitas vezes, ao lhe solicitar meios, procurava, ao que me parece, um talão de cheque que certamente era pessoal e não de sua instituição; foi meu colega no Curso de Jornalismo da UFBA, na Faculdade de Filosofia, dirigida pelo grande educador Isaías Alves. Ainda temos, sua irmã e cepista fervorosa Vanda Angélica da Cunha. Adma Nunes, Rosa Valente, Ita Moreira, Magali Sarmiento, Sylvio Mattoso e Sra, Rosana Paulo. Muitos de antigamente continuam e novos vão aparecendo e Nova Geração há de surgir.
Para o fim, a lembrança perene de dois homens de quem não posso me esquecer: Carlos Frederico Werneck de Lacerda e Manoel Rodrigues Pedreira, ou simplesmente Maneka Pedreira. O mesmo do então Juiz Federal, em Brasília, Aloísio Pereira, que ocupou cargos importantes no Judiciário, e que, em determinada circunstância, resolveu problema sério do CEPA. Neste arremate, vemos Walney Moraes Sarmento e Luciano Costa Santos, Doutores em Filosofia, um em Hannover na Alemanha e outro em Sorbonne, Paris – França. Saudade de Hermano Gouveia Neto, muita saudade. Fundador da Academia Baiana de Educação e até o fim, do Conselho do CEPA e, com sua esposa Anete, nos ajudando efetivamente. O coração também guarda, com os sentimentos, estima, amizade, amorosidade no sentido mais puro, de Joalbo Oliveira e Nunginaldo Silva. Nestes dois últimos anos – 2010 – 2011, o Diretor da Faculdade Dois de Julho, Professor Josué Melo, pastor presbiteriano, nos abriu as portas e salas, o coração, e lhe somos gratos como irmãos e amigos em Cristo. Ter dentro, agostinianamente, o mais íntimo interior, aquela frase de um brasileiro legítimo: “Vale a pena chamar a muitos, ser atendido por poucos, assistir a destruição do que fizemos, recomeçar de novo, e mil vezes repetir o recomeço, com tenacidade inquebrantável”. Ruy Barbosa, na Oração aos Moços, confirma-o: “Estou abrindo o livro da minha vida, se não quiserdes aceitar como expressão fiel da realidade esta versão rigorosa de uma de suas páginas, com o que mais me consolo, recebei-a, ao menos, como um ato de fé, ou como conselho de pai a filhos, quando não como o testamento de uma carreira que poderá ter discrepado, muitas vezes, do bem, mas sempre o evangelizou com entusiasmo, o procurou com fervor e o venerou com sinceridade”.
Germano Machado
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