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Descrição
O Rio de Janeiro, assim como as cidades brasileiras, para facilitar a administração, é dividido em bairros. Um conjunto de bairros contíguos forma, nas grandes metrópoles, uma Região Administrativa. Para vocês terem uma noção do seu tamanho, a Rocinha compõe, sozinha, a 27ª Região Administrativa do município do Rio.
Cognominada a “maior favela da América Latina” dizem que tem mais de 150 mil habitantes, uma população maior do que a de 95% dos 5.564 (ou já tem mais?) municípios brasileiros. Segundo a Prefeitura a Rocinha, transformada em bairro em 1993, tem 120 mil habitantes. O IBGE mostra algo como 60 mil moradores. Se for correto esse menor número, ainda assim é mais ou menos a soma dos bairros da Gávea, Jardim Botânico e Lagoa juntos.
Por que aumentam as favelas no Rio de Janeiro? Além de todos os motivos que já se tornaram argumentos comuns (êxodo rural etc.), os estudiosos apontam como um dos principais fatores a Lei Federal 6.766 de 1979 que obriga os loteadores a dotarem de infra-estrutura os loteamentos, responsabilidade que antes era das Prefeituras. Com isso não existem mais lotes legais baratos para as faixas de baixa renda construírem moradias.
A história conta que a Rocinha surge imediatamente após a II Guerra com a chegada de agricultores portugueses, franceses e italianos que se estabelecem com pequenos sítios e roçados nas encostas, já nos limites da Serra do Mar, na vertente oeste do maciço que tem seu ponto mais alto no Pico Dois Irmãos do Leblon. Ali mesmo onde hoje é a saída do túnel Zuzu Angel desembocando em São Conrado. No final da década de 50 (do século XX) começam a chegar os imigrantes, alguns sudestinos oriundos das regiões agrícolas mineiras, mas principalmente da região nordeste. A chegada de novos moradores se intensifica nas décadas de 80 e 90, inclusive com um grande contingente do estado do Ceará. É de Fortaleza que viria para morar na Rocinha, Geísa Firmo Gonçalves (uma jovem de 21 anos) com seu marido Alexandre Magno de Macedo (um jovem de 22 anos) que foi ser tratador de cavalos no Jockey Club do Rio.
Geísa, no dia 12 de junho de 2.000, estava no ônibus 174 que foi seqüestrado por Sandro do Nascimento (um jovem de 21 anos), sendo morta com 4 tiros depois da intervenção desastrosa do policial Marcelo Oliveira dos Santos (um jovem de 27 anos). O seqüestro, que durou mais de 4 horas e foi transmitido ao vivo pela TV foi transformado, dois anos depois, no documentário premiado Ônibus 174 dirigido por José Padilha. Não acompanhei pela TV o acontecido e só li nos jornais. Fui ver na época o filme e fiquei completamente em estado de choque durante toda a projeção ao ver, em princípio, a total incapacidade e incompetência da polícia para lidar com o caso. O filme foi abordado em artigo no Overmundo.
O nome Geísa já estava esquecido por mim quando visitei a Rocinha esta semana. Soube então que ela era professora e dava aulas de artesanato para crianças de 6 a 14 anos no Centro Comunitário. A Rocinha não a esqueceu. Ela dá nome hoje ao Espaço de Artes da Rocinha que reúne o trabalho de mais de 80 artesãos ali residentes. O novo espaço foi inaugurado em 2004 depois de uma batalha de 5 anos do seu coordenador José Luiz Summer. Fica à esquerda de quem sai do túnel, entre a quadra da Escola de Samba Acadêmicos da Rocinha e o CIEP Ayrton Senna, agora com fácil acesso para todo mundo. Antes ficava na parte alta do morro e as vendas eram dificultadas, principalmente para turistas.
Convido os amigos a visitar o espaço e bater um papo com o Zé Luiz. Se você for de carro, é fácil: seguindo pela Auto-Estrada Lagoa-Barra, logo que sair do túnel em São Conrado, dá uma reduzida para fazer o primeiro retorno à direita, descendo o elevado em curva e retornando. Vinte ou trinta metros depois, já por baixo do elevado, siga em frente em direção ao prédio da Prefeitura (Centro de Cidadania Rinaldo De Lamare) e estacione por ali mesmo ou mais adiante em frente à Quadra da Acadêmicos da Rocinha. Se você for de ônibus (175; 176; 178 e 179 entre outros) é mais fácil ainda: é só saltar no primeiro ponto depois do túnel e atravessar a passarela. Você vai ver o bonito quiosque logo em frente (só para registro a rua chama-se Berta Lutz e o número é o 84-A). Se quiser marcar com o Zé Luiz ligue para esses números: (21) 9127.5895 e 9859.5644.
Apesar do grande número de artesãos que expõem no Espaço há uma grande demanda de crianças, jovens e adultos residentes na Rocinha querendo aprender. O Espaço está precisando de professores voluntários. Se você é artista, designer, artesão ou trabalha com arte-educação, talvez possa colaborar ajudando o Zé Luiz a organizar Oficinas para o pessoal. Vamos nessa?
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