Uma Reflexão Sobre a Poesia de Valter Hugo Mãe (Parte 6)

Descrição

Com um forte apelo sexual, 'agora eu era linda outra vez' é puro movimento. O eu-lírico que canta a sua beleza espelhada pela companhia do ser amado, também narra uma noite de amor - 'noite inteira um tão grande / amor' - repleta de detalhes que vão construindo tanto a cena da conjunção amorosa - 'vulnerável e nu, e eu / era por ti adentro eternamente' - quanto o sentimento de entrega total de um e 'eu' para um 'outro'. Não se trata apenas de sexo, mas de alma - quando tudo pode estar simplesmente acontecendo no imaginário do eu-lírico. A força maior que conduz o movimento não é o desejo pelo 'outro', mas sim a necessidade pelo 'outro'. E o tempo não existe, assim como não existe o limite para o 'amor' do eu-lírico - o ser amado veste-se de tempo para esquecer o dia, tornar-se eterno pelo ser amado e para o ser amado - 'agora tu eras como o tempo / despido dos dias, por fim / vulnerável e nu, e eu / era por ti adentro eternamente'.


:::. outros poemas

'vejo as coisas como errantes, coisas que vão e
voltam, ou mesmo que se perdem por mil razões'
(Valter Hugo MÃE) [6]

Além de romper com a idéia de um ritmo simples, os versos de MÃE conseguem construir linhas paralelas de interpretação apenas pelos lugares onde estão distribuídos:

receberei deus estendidas
as paisagens, eu de
coração índigo, criando
bocas na extremidade de cada
apetite

elevado na montanha
fulvo de luz

[em 'Útero', de Valter Hugo MÃE]